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Geração-sanduíche: os impactos de cuidar ao mesmo tempo dos pais e dos filhos

Se você nunca ouviu falar deste termo, certamente você já viu ou até mesmo faz parte deste fenômeno. Stellar traz o depoimento de quem sentiu na pele o peso da sobrecarga de cuidados com gerações distintas 

“Minha mãe sempre foi muito independente. Sempre trabalhou fora, estudou, gostava de ler. Sonhava em ter netos. Comprava brinquedos antes mesmo de eu engravidar. Neste cenário, imaginava que ela seria um apoio para mim quando engravidei. Mas a demência foi se instalando aos poucos na vida dela e quando percebi, já resolvia todas as coisas para ela: desde a parte financeira, até o acompanhamento em consultas, a organização dos remédios… Não imaginava que a doença a deixaria tão dependente.” O depoimento é da professora Eugênia*, 40 anos, mãe de Jéssica*, 6 anos, e filha de Marta*, 78 anos, que convive com Alzheimer há sete anos.

Nesta época, além de ter que lidar com as mudanças de comportamento da mãe, que alteraram a sua rotina, a professora Eugênia estava no meio de um divórcio, quando a mãe precisou ir morar com ela. “Minha filha tinha três anos e estava se adaptando a morar longe do pai. Estando juntas no mesmo espaço e com demandas tão diferentes, apareceram problemas de comportamento como ciúmes em relação à avó e tentativas de chamar atenção. Dividida entre os cuidados com as duas e meu trabalho, não tinha tempo para cuidar de mim”, conta. 

Soma de fatores que levaram à geração sanduíche

O caso de Eugênia, que teve o desafio de cuidar de duas gerações ao mesmo tempo, está longe de ser exceção, sendo conhecido internacionalmente como uma característica da “geração sanduíche”, que comprime pessoas pelas demandas de duas ou até três gerações distintas. E existe uma combinação de fatores por trás deste fenômeno universal: o adiamento da maternidade e a longevidade faz com que gerações de avós e netos possam conviver ao mesmo tempo. Algo impensado algumas décadas atrás, em que os avós mal chegavam a conhecer os netos. Vale acrescentar a esta lista um outro ingrediente: as famílias ficaram menores e existem menos pessoas com quem dividir tarefas. Além disso, boa parte dos jovens tem ficado por mais tempo na casa dos pais. “O cenário gerado por essas mudanças é de uma parcela cada vez maior de adultos comprimidos simultaneamente por demandas de seus filhos e de seus pais. E as mulheres são as mais propensas a ocupar esse papel”, escreveram as pesquisadoras Jordana Cristina de Jesus e Simone Wajnman, autoras do estudo “Geração Sanduíche no Brasil: Realidade ou Mito?

Economia do cuidado e a sobrecarga das mulheres: quem cuida de quem cuida?

A faixa etária mais propensa a ser “ensanduichada” é a dos 40 anos, justamente o perfil de Eugênia, ouvida por Stellar. Mais da metade (54%) dos americanos nessa idade tem pais e filhos que possivelmente demandam cuidados ou ajuda financeira.

Dados do IBGE reforçam o que as pesquisadoras pontuaram e o que nós, mulheres, já sabemos: dedicamos muitas horas ao cuidado. Segundo o IBGE, são 10,4 horas a mais por semana direcionadas às tarefas da casa e aos cuidados não remunerados, em comparação aos homens. 

Os reflexos de toda a sobrecarga do cuidado não demoram a aparecer. Eugênia passou a lidar com um estresse crônico, que resultou em insônia, enxaqueca e dores de estômago, enquanto isso, a situação com suia mãe foi se agravando. “Ela começou a precisar de cuidados 24 horas por dia. Cuidadoras entravam e saiam com minha mãe se recusando a ser cuidada e, muitas vezes, sendo agressiva com algumas. Assim optei pela casa de repouso, que conta com profissionais especializadas em Alzheimer e proporciona também atividades em grupo. Ela se adaptou bem e agora consigo mais tempo de qualidade com minha filha e com minha mãe quando a visitamos.”

Pedir ajuda é necessário

Nem sempre é fácil reconhecer que é preciso ajuda para lidar com a situação, já que desde cedo as mulheres são estimuladas a cuidar, e acabam vestindo a capa de “mulher maravilha”, tendo dificuldade para delegar tarefas. Existe ainda a pegadinha de achar que vai dar conta de tudo, que é bacana ser multitasking, como se isso fosse uma espécie de virtude feminina. No caso de Eugênia, a ajuda de uma terapeuta durante todo este processo foi fundamental para que ela enxergasse que precisava se cuidar também. “Mesmo em coisas simples como ter uma refeição tranquila e um sono de qualidade estavam sendo negligenciados e deixados em último plano. A terapia foi essencial para a mudança de rotas, que agora está fazendo bem para todas nós”, conclui. 

Sem delegar tarefas e pedir ajuda, não há saúde mental, física e, muitas vezes, financeira, que resista. Fica aqui, então, uma reflexão: aquele irmão, tio ou  primo podem ser inseridos nessa dinâmica do cuidado. E se o cuidado demanda ajuda profissional, também vale reunir os familiares para juntos pensarem numa solução que tire dos ombros de uma única pessoa toda sobrecarga. 

Por fim, vale dizer que quando essa convivência multigeracional não demanda cuidados extras, como no caso da mãe de Eugênia, ela também pode trazer ganhos, desde aproximar a família, até permitir que mães consigam se manter no mercado enquanto as avós ajudam com as crianças. Mas, neste caso, só funciona se houver uma divisão mais equilibrada de tarefas e cuidados, senão, a sobrecarga mental e física certamente irão falar mais alto. 

*Os nomes foram alterados a pedido da entrevistada

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