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Tempo de qualidade com os filhos: precisamos falar sobre isso

Stellar convidou a psicóloga e psicanalista Bibiana Godoi Malgarim, especialista em psicoterapia psicanalítica de crianças e adolescentes, doutora em psiquiatria, para uma conversa esclarecedora e muito franca sobre o tão falado tempo de qualidade. Puxe uma cadeira e venha ouvir o que a nossa estrela-convidada tem a dizer.

Falta de tempo, culpa, frustração. Se formos perguntar quem gostaria de passar mais tempo com os filhos, certamente, a maioria levantaria a mão. Mas existe também as famílias que se apegam à tão divulgada ideia do tempo de qualidade para levarem com mais leveza a criação de seus filhos. “O que importa é que quando estou presente, estou realmente presente”, muitos dizem. Mas até que ponto o tempo de qualidade é realmente compensador? E qual a importância de abandonarmos a ideia de mãe e pai ideais e abraçarmos a nossa humanidade sendo suficientemente bons pais, com todas as falhas que isso implica? Para nos ajudar a entender como equilibrar essa balança, convidamos a psicóloga e psicanalista Bibiana Godoi Malgarim, especialista em psicoterapia psicanalítica de crianças e adolescentes, doutora em psiquiatria, para uma conversa esclarecedora e muito franca. Acompanhe a entrevista:

Stellar: Vivemos sobrecarregados – especialmente as mulheres, que são tidas como as responsáveis pelo cuidado com a casa e as crianças. Ao mesmo tempo, desejamos estar mais tempo com nossos filhos e nos apegamos a ideia do “tempo de qualidade” que realmente importa. Até que ponto a qualidade deste tempo realmente compensa a falta de quantidade de tempo junto à criança? 

Bibiana Malgarim: A resposta é depende. Depende de que tipo de cuidado meu filho precisa. E isto está diretamente ligado à necessidade da criança. Se estamos falando de uma criança pequena ou em idade escolar inicial, a resposta é que essa criança precisa de mais quantidade de tempo e não só do tempo de qualidade. É preciso envolvimento com a saúde, o bem-estar e a convivência da criança. Se eu só vejo essa criança quando ela acorda, quando vai dormir e aos finais de semana, essa conta não está fechando porque estamos falando de uma ausência na rotina. E sim: a questão do cuidado recai muito sobre a mulher. Mas qualquer adulto que ame essa criança, que seja do seu entorno e possa cuidar dela – seja uma família convencional de pai e mãe ou duas mães ou dois pais, é preciso que acompanhe e faça parte desta rotina juntamente com a criança. Também precisamos considerar que muitos pais precisam deixar seus filhos com cuidadores, sejam babás ou na escolinha, desde muito cedo, e passam o dia todo no trabalho. Nesses casos, acredito que o mais importante é que essa criança seja bem cuidada por um profissional afetivo e dedicado. Mas, de qualquer forma, é um profissional: ele é demitido, pede demissão, tem afastamento. Do meu ponto de vista, quando os pais buscam escolinhas a maior preocupação deveria ser quem cuida do seu bebê e não o programa pedagógico.

E conforme a criança cresce, esse tempo atendendo às demandas dela vai reduzindo naturalmente também. Vale usar aqui um clichê que cabe neste contexto: bons cuidadores são aqueles que se tornam dispensáveis com o passar do tempo. Ou seja: conforme a criança cresce e aumenta seus  recursos naturais e biológicos, a atenção vai migrar de menos quantidade para mais qualidade. 

Stellar: É muito comum que no trabalho os pais pensem: “ah, gostaria de estar com meu filho, preciso me dedicar mais a ele”; enquanto quando está com a criança pensa: “eu poderia adiantar alguma coisa do trabalho”. Não é uma equação simples. E tem sido cada vez mais difícil estar realmente presente. Quando isto não acontece vem a culpa. Poderia falar um pouco sobre como lidar com essa culpa?

Bibiana Malgarim: Culpa é uma palavra complicada e muito vasta, o que quer dizer que quando falamos em culpa podemos estar nos referindo a uma série de outros sentimentos e afetos. A cada dia a possibilidade de escolher ter um filho fica mais democrática – e aqui falo em um sentido amplo da palavra – contudo, ainda não é uma decisão fácil e, portanto, pouco pensada no sentido de entender profundamente por que ter um filho, o que ele representa para mim, tenho espaço emocional, temporal e financeiro para um filho, etc. Dessa forma, “ter filhos” fica como um item do pacote “estar vivo e ser adulto” – resumidamente falando, claro! Só que a nossa configuração social não é a mesma de décadas atrás, as demandas, os interesses, os desejos são diferentes, mas interessante que tudo isso é pouco considerado quando se pensa em ter um filho e aí o inevitável: a conta não fecha e a culpa parece estar ali à espreita. Como lidar com a culpa? Análise. Não tem outro jeito. Esse é o lugar para você se colocar em questão e de fato pensar sobre suas escolhas e como elas são feitas.

Stellar: Podemos afirmar que o tempo de qualidade com nossos filhos mora nas pequenas coisas, tipo: um passeio no bairro, jogar bola juntos, sentar e ouvir o que a criança tem a dizer? 

Bibiana Malgarim: Sim, as pequenas coisas ou situações são muito relevantes, mas volto a dizer, o que ficará impresso como algo muito importante para o desenvolvimento da criança é a rotina. Acontecimentos sistemáticos, previsíveis e afetivos fornecem segurança nas relações e no mundo, compondo o que chamamos de personalidade. E isso vale para os bons e maus momentos dessa rotina.

Stellar: Por um lado temos famílias com dificuldades financeiras que precisam trabalhar duplas e triplas jornadas, tornando desafiador passar tempo de qualidade com os filhos. Por outro lado, temos famílias preenchendo a agenda das crianças com atividades. E quando os filhos estão em casa, estão nas telas ou em seus quartos. Como você avalia estes cenários e o que fazer para melhorar?
Bibiana Malgarim: A questão social é algo muito relevante e de fato tem um impacto enorme. Quem cuida de criança são as pessoas. E para que crianças sejam bem cuidadas precisamos de meios, de segurança, de recursos, ou seja, adultos que cuidam de crianças precisam de apoio para cuidar bem. O cuidado que eu recebi será a matriz do cuidado que eu oferecerei, então não é à toa que os primeiros anos de vida são tão fundamentais. E há coisas diferentes nisso tudo: não poder estar junto e não querer estar junto, não são equivalentes. Criar humanos é o trabalho mais difícil do mundo, e sendo assim, exigirá essa complexidade de quem se propôs, sem desconsiderar esse ambiente que deve ser favorável. Para dar conta desses cenários, é preciso políticas-públicas que consistem em tempo e qualidade para que se possa escolher estar com os filhos, e para quem acha que a tela ou terceiros substitui sua presença, é um equívoco que terá repercussão intensa nessa família. Acredito que buscar espaço para reflexão é uma alternativa mais valiosa do que listar dicas e conselhos sem considerar o contexto de cada família, o que pode gerar ainda mais sobrecarga e distanciamento, uma vez que imprimem artificialidade à relação.

Stellar: Muitos pais sabem que precisam melhorar sua qualidade afetiva e se cobram demais por isto. Se comparam, veem na internet famílias “perfeitas”. Como ter mais leveza neste processo e colocar em prática o conceito de ser “suficientemente bom”?

Bibiana Malgarim: Esse conceito de suficientemente bom veio do Donald Winnicott, um psiquiatra e psicanalista que trouxe a ideia dessa mãe comum e não extraordinária, que oferece os cuidados necessários ao seu bebê. O conceito de suficientemente bom é importante porque ele lida com a satisfação e com a frustração. Os pais oferecem o necessário de acordo com a faixa etária, mas obviamente, eles vão falhar e isso também é importante de ser absorvido. Obviamente, falhar não significa criar ambientes traumáticos ou que transcendam a condição da criança em dar conta naquela faixa etária. Esse ambiente suficientemente bom para a criança é importante, mas os pais também precisam de um ambiente que cuide para que eles possam cuidar. Essa é a lógica do coletivo, da sociedade, assim como uma corrente com elos. Eu consigo cuidar bem do meu filho se eu tenho uma ambiente que cuida de mim, onde me sinto segura.

Stellar: Nem sempre todas as necessidades da criança serão supridas pelos pais. E os pais, por sua vez, muitas vezes lidam com a frustração de não conseguirem ser tão bons quanto desejavam. Como podemos lidar com essas frustrações?

Bibiana Malgarim: A frustração é fundamental para as crianças. Se você faz por ela algo que ela pode fazer por si só, você evita que ela tenha acesso a algo importante para o seu desenvolvimento e isso vai gerar um adulto que não tolera ser contrariado, não tolera perder. Mas para ensinar isso eu também preciso saber lidar com as minhas frustrações. E  isso precisa não só ser dito, mas experimentado na relação. As crianças estão muito atentas ao que vai ser vivido e experimentado, muito além do que simplesmente vai ser dito. Vivência, exemplo e constância são fundamentais. Crianças precisam de ajuda para entender suas questões emocionais e seus limites e o adulto que cuida dela é sua referência. Então, isso é algo que precisa ser trabalhado em conjunto.

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